"Indústria de alta intensidade tecnológica registra em 2008 o maior déficit dos últimos 10 anos. Para Abinee, números são preocupantes."
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O saldo da balança comercial da indústria eletroeletrônica ficou negativo em 22,14 bilhões de dólares em 2008. O valor é bem maior do que o registrado em 2007, quando o déficit do setor foi de 14,75 bilhões de dólares. Para Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), o número é preocupante.
“Claro que preocupa, principalmente pela falta de componentes sendo produzidos no País”, afirma Barbato. “Estamos desenvolvendo um estudo, que será entregue ao presidente Lula, sobre qual é a expectativa da indústria eletroeletrônica nos próximos 10 anos. Nós precisamos reverter este quadro”, completa o executivo.
Os números do setor eletroeletrônico refletem um cenário brasileiro que ficou evidenciado após a crise econômica. Apesar de ter encerrado o ano com saldo positivo na balança comercial, o País apresentou grandes déficits nos setores de maior intensidade tecnológica da indústria de transformação, que incluem os setores de informática, telecomunicações, aeronáutica, química, entre outros. Com isso, a competitividade do Brasil no cenário internacional diminui seriamente.
Dados divulgados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostram que, em 2008, os bens considerados de alta intensidade tecnológica registraram déficit de 21,7 bilhões de dólares, uma deterioração de quase 7 bilhões de dólares em comparação ao ano anterior. Foi o pior resultado desde 1997, quando o instituto passou a fazer a pesquisa.
Mesmo considerando que a balança comercial brasileira terminou o ano com saldo positivo — de 24,8 bilhões de dólares — a situação é ruim para o País. Ao depender quase que exclusivamente do setor primário para manter o superávit no comércio internacional, o Brasil perde bastante em competitividade, principalmente em relação aos demais países emergentes. Além disso, como explica Rogério César de Souza, economista do IEDI, quanto maior for a sofisticação da indústria, mais impactos positivos ela traz para a cadeia produtiva como um todo.
“Os produtos com maior intensidade tecnológica geram mais valor. Não é que seja ruim ser forte em setores de baixa intensidade. Mas, lógico, para ter o mesmo resultado, é preciso vender muito mais sapatos do que computadores”, explica Souza.
Para o economista, os números, apesar de ruins, também espelham um lado positivo. Parte desse resultado se deve ao fato do Brasil ter apresentado um bom crescimento nos últimos anos, gerando maior demanda por equipamentos de informática e comunicações, por exemplo. Isso significa que existe espaço para investir nessas indústrias.
Como o preço das commodities estava em alta nos últimos anos, segundo Barbato, da Abinee, a questão da balança comercial da indústria eletroeletrônica ficava em segundo plano. “De certa forma, é bom que o preço (das commodities) tenha caído com a crise, porque chama atenção para o problema do nosso setor”, afirma. “Se não fizermos nada, não vai ter commodities para cobrir esse déficit”, completa o executivo.
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